Na mesma semana em que é anunciada a promulgação da lei que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo, há uma professora em Mirandela, Bruna Real, que é afastada das suas funções por ter posado nua para a revista Playboy (revista que compro religiosamente desde o primeiro número). Eu, pessoalmente, acho isto extraodinário.
Estas notícias mostram-nos um Portugal bipolar, como se de um esquizofrénico se tratasse, maluquinho, pelas ruas, nas quais tão depressa corre a mostrar a pila às avozinhas como, de repente, se esconde num qualquer canto com receio que o persigam e abatam a tiro.
Não entendo.
Esclareço a minha posição: aplaudo a promulgação da lei e condeno o afastamento da professora primária.
Assisti, com espanto, num dos jornais televisivos, ao que diziam as pessoas entrevistadas no âmbito do caso da professora primária. Muitas pessoas se manifestaram contra as fotos, porque a professora dá aulas a crianças e tem uma responsabilidade acrescida por isso mesmo. Tem que dar o exemplo. Ora eu pensei que precisamente por dar aulas a crianças, podíamos estar descansados, pois as crianças não têm idade ainda para ler a Playboy. Enganei-me.Mas nenhum dos pais entrevistados se mostrou espantado nem questionou o facto de crianças daquela idade terem no seu telemóvel fotografias eróticas! Não é estranho nem me preocupa que o meu filho ande a ver mulheres nuas no telemóvel, desde que não seja a professora.
Em momento algum ouvi alguém, nem a vereadora da câmara municipal, falar sobre as capacidades profissionais da senhora professora. Eu deduzo que se fosse má professora alguém se tinha apressado a trazer tal facto à luz para conseguir justificar o afastamento com mais do que puro preconceito. Portanto, a Bruna Real não só é uma professora boa,como seria também boa professora.
Termino dizendo que me envergonha a existência de entidades (in)competentes neste país, com linhas condutoras tão redutoras e tão retrógadas quanto a importância das funções que deviam desempenhar. O afastamento desta professora representa um atentado à liberdade de cada um, à arte do erotismo, reveste-se de preconceito e censura barata e popolarucha. Neste momento só me lembro de alguém que devia cessar funções: a vereadora da CM.
Muitos perguntarão: e se fosse professora do teu filho, o que farias?
Passava a ir buscar e levar o garoto à escola todos os dias! Estaria também presente nas festas de Natal, Páscoa, Carnaval e, se pudesse, assistia a uma ou duas aulas de expressão musical.